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Já se sentiu perdido? 4 lições de Toy Story 4 para sua transição de carreira

Sentir-se perdido é uma experiência comum quando estamos começando a pensar em transição de carreira. Em “Toy Story 4” podemos refletir sobre essa condição e tirar grandes (e emocionantes) lições.

Antes de começar… Você já assistiu ao filme “Toy Story 4” (2019)? Se sim, ótimo! Se não, não se preocupe! Não vamos dar spoiler! Dá uma conferida no trailer e siga a nossa leitura. Vamos descrever as cenas que você precisa saber para compreender o texto. Mas se organize pra assistir, porque vale muito a pena!

É possível que a condição de se sentir “perdido” apareça algumas vezes ao longo da nossa história profissional. Pensar em transição de carreira pode causar medo e confusão para algumas pessoas! E no filme Toy Story 4 (2019), essa temática é bem ilustrada. Vale iniciar nossa discussão sinalizando que filmes podem ser muito úteis para o autoconhecimento, expressão de emoções e resolução de problemas (se você se interessar por essa temática, te convido a ler depois este artigo sobre Cinema e Intervenções Terapêuticas.)

Poster do filme Toy Story 4
Fonte: Disney Pixar (divulgação)

Nessa aventura, nossos brinquedos queridos estão com uma nova dona, a Bonnie (e não mais o Andy – toda a geração de 90 chora 😭 ). Em um dia na escola, Bonnie transforma um garfo plástico em um brinquedo, o Garfinho. Apesar de muito querido, Garfinho não entende sua nova condição e deseja insistentemente voltar para o lixo, de onde acha que pertence. Woody assume a responsabilidade de protegê-lo, mas acaba o perdendo de vista em uma saída da família. Com isso, todos os brinquedos se mobilizam para encontrá-lo em um parque de diversão – lugar perfeito para encontrar brinquedos perdidos.

A partir disso, quero compartilhar 4 lições sobre o que fazer quando se sentir perdido, em especial quando se fala em transição de carreira.

Defina o que é estar perdido para você

Fonte: Disney Pixar (divulgação)

No filme, ser um brinquedo perdido é não possuir um dono. Mas Woody também apresenta os “sintomas de estar perdido” bem conhecidos de todos nós. É a sua primeira aventura com uma nova dona, depois de anos sendo o brinquedo do Andy. Ao mesmo tempo em que tenta “garantir que nada aconteça com o Garfinho”, ele foge de se questionar sobre o seu novo papel e os sentimentos sobre o novo contexto em que está inserido. Seria saudade do que viveu com o Andy? Frustração com as preferências da Bonnie? Confusão e cansaço com o Garfinho? O desejo de “não estar perdido” acaba fazendo Woody se desconectar de todas essas emoções – e sequer entender o que é, de fato, ser um brinquedo perdido.

Perceber-se “perdido” pode ser desesperador! Mas atribuir à sua identidade a característica de “perdido” e encará-la como problemática não ajuda a compreender de fato o sentimento e nem contribui para a resolução de problemas. Os sentimentos não são a nossa identidade, mas formas de reagir a uma parte do mundo, e essa confusão pode ser fonte de muito sofrimento, como teoriza a Terapia de Aceitação e Compromisso. Portanto, é importante perguntar: o que você sente e pensa quando se percebe perdido? Se eu fosse tentar descrever em comportamentos específicos, quando eu me sinto perdida em minha vida profissional, normalmente começo a deixar de ver soluções para os meus problemas, ter dúvidas sobre os próximos passos, sentir desmotivação para o trabalho sem outras explicações e questionar muito o momento atual. E você? O que sente? O que é, de fato, sentir-se (e não ser) perdido para você? Descrever de forma precisa o que está sentindo pode ser um passo importante na jornada pela mudança.

Identifique ao que você está reagindo

Fonte: Disney Pixar (divulgação)

Ao longo do filme, Woody irá tentar proteger o Garfinho. Interessante notar as regras que ele, cegamente, se mantém seguindo: “O dever de um brinquedo não tem fim”, “Você precisa entender a sorte que você tem, você é o brinquedo da Bonnie”. Entretanto, deparar-se com um brinquedo que se considera um lixo e que não vê tanto valor assim em ter um dono (assim como todos os outros brinquedos perdidos que encontrará ao longo do filme), gera sentimentos contraditórios em Woody. Ele tem dificuldades de perceber que as condições já não são as mesmas das que ele sempre viveu ao longo da sua vida com Andy e os seus amigos.

Compreendendo agora que as emoções são formas de reagir ao mundo, precisamos entender ao que estamos reagindo. É importante pontuar que apesar de estarmos vivendo uma grande transformação na forma como se vê a carreira profissional (quando se entende que muitas profissões irão mudar e que muitos experimentarão vários empregos ao longo da vida), ainda há muitas críticas culturais sobre aqueles que não desejam se focar completamente em uma atividade, como sinaliza Emilie Wapnick, em uma discussão sobre multipotencialidade. (Eu, por exemplo, ouvi bastante que se eu fizesse mais de uma coisa, eu não faria bem nenhuma delas! E como isso me fez sofrer por um tempo…!).

Além da própria cultura, temos a nossa própria história, com os vínculos que foram fortalecidos, as regras que aprendemos, os sonhos que elaboramos, as frustrações das quais fugimos… E é impossível não reagir a tudo isso! A temática dos brinquedos perdidos x brinquedos com donos confirma que o sentimento de “estar perdido” pode ser uma reação ao conflito entre passado, presente e futuro. Fruto da falta de compreensão e aceitação das mudanças. Fruto de um apego ao passado que nem sempre consegue se sustentar no presente. Ao que você está reagindo? O que está causando o seu desconforto?

“Se você ficar sentado na prateleira a vida inteira, você nunca vai descobrir.”

Woody

Compreenda a mudança como evolução, não como desperdício

Fonte: Disney Pixar (divulgação)

Para mim, o grande conflito do filme se passa quando Woody começa a perceber a verdadeira causa do seu incômodo. Ele sempre se apegou à ideia de ser um boneco fiel a alguém (“É a coisa mais nobre a se fazer”). “Eu conheço esse cara a vida inteira…”, é o que dizem a ele. Seria uma “traição” mudar? Seria abrir mão de tudo o que passou? Como é estranho se dar conta que existem bonecos perdidos no mundo que não são tão “perdidos” assim!

Se entendemos que estamos apenas reagindo, não precisamos atribuir um valor negativo ao momento que estamos vivendo, nem a tudo que foi vivido. Ouço muito que mudar de carreira, por exemplo, seria um desperdício a tudo que investiu. E isso é um engano! Nenhum conhecimento, habilidade ou experiência simplesmente se ‘perde no ar’, como é legitimado pelo conceito de lifelong learning. Nós somos o perfeito resultado do que vivemos em nossa história. Uma preciosidade que venho aprendendo é que “o vestido da infância era lindo quando eu era pequena, mas hoje, por mais lindo que seja, ele não cabe mais!”. Nem sempre é necessária uma guerra para perceber que certas pessoas, funções e escolhas não cabem mais no seu estilo de vida. E TUDO BEM! Elas não precisam ser excluídas, nem rejeitadas, nem esquecidas. Apenas, compreendidas.

“Seja quem você é AGORA.”

Betty

Amigos são para sempre? Não. Trabalho dos sonhos é para sempre? Pode ser que não. O namoro que foi perfeito é para sempre? Não necessariamente também. A função que eu desempenhava tão bem é para sempre? Não. E por aí vai. Jogue nessa fórmula os temas que te deixam perdido e veja que a resposta será a mesma. E depois disso, jogue a toalha? Não também. Aceite as condições como ela estão no momento, abrace o passado e o que ele te fez aprender, volte a ele com carinho quando necessário. Mas não precisa forçar nenhum retorno. Sonhos anteriores, diplomas e projetos não são sentenças.

Responda ao que é importante hoje

Buzz e Woody olhando para parque de diversões
Fonte: Disney Pixar (divulgação)

Ao assistir ao filme, você irá observar: o critério para a resolução do conflito é o que faz sentido para os personagens HOJE. Identificando o que se sentia, compreendendo ao que se reagia, acolhendo ao passado como história e não sentença, Woody toma uma decisão que me fez chorar bastante na cadeira do cinema (me digam que eu não estou sozinha, por favor!)

Com essa jornada de legitimação da sua história, você pode perguntar: o que fazer, então? E a resposta não será encontrada aqui. Estamos aqui para te inspirar e te ajudar na sua pesquisa, mas o clichê vai prevalecer no momento: “as respostas estão em você”! Não como o Buzz, que ouve a voz interior com um clique no botão (quem dera fosse fácil assim)! Mas de um jeito menos abstrato, ficam aqui duas sugestões para realizar esse movimento:

  1. Permita-se honestamente fazer um balanço do que o seu trabalho (ou qualquer outra relação da sua vida) produz hoje para você, o que ele te faz sentir e para quais caminhos te leva. Não de como você se sentiu um dia ou de como você gostaria que tivesse sido. Certamente no passado você deu o melhor que podia. E tudo bem agora seu trabalho não produzir as mesmas emoções de antes.
  2. Decida o que fazer com elas a partir de agora. A partir do que funciona hoje. Rumo ao que uma nova etapa pede. Seja o que o seu momento pede. Abrace quem você se tornou HOJE. Escolha o que funciona a partir do momento atual. Mude funções, pessoas, locais, decisões, sempre que for necessário. Ou então, quem sabe: agregue, transforme, recrie, acrescente, sem necessariamente mudar tudo. Você pode reinventar a sua forma de exercer a sua profissão ou sua atividade anterior! Mas nunca se permita ser refém do dito ou escolhido no passado.

Tendo feito isso, alguns dirão que você está mais perdido do que nunca. E você, vai dizer, como o Buzz Lightyear:

Ele não está perdido.

Não mais.”

(Buzz Lightyear)

Ao infinito e além!